Do oriente às feiras brasileiras: o pastel é mais do que comida — é memória, encontro e cultura
Poucos cheiros são tão inconfundíveis quanto o de um pastel fritando na hora. Crocante por fora, macio por dentro e sempre recheado de histórias, o pastel frito é uma das paixões gastronômicas mais queridas do Brasil — símbolo de feira, boteco e encontro de família.
Mas o que muita gente não sabe é que o pastel, antes de conquistar corações (e barrigas) brasileiras, tem uma história que começou bem longe daqui — e foi moldada ao gosto e criatividade do nosso povo.
🏮 Das rotas orientais à cozinha brasileira
A origem do pastel é disputada. Muitos estudiosos acreditam que ele descende dos rolinhos primavera chineses (spring rolls) e dos gyozas japoneses — pequenos bolinhos fritos ou cozidos, envoltos em massa fina e recheados com legumes ou carne.
Quando imigrantes asiáticos chegaram ao Brasil no início do século XX, especialmente durante a década de 1930, adaptaram suas receitas aos ingredientes locais e ao paladar dos brasileiros.
Os pastéis, inicialmente vendidos em barracas de comida oriental, rapidamente ganharam o coração das feiras livres, se transformando em uma iguaria nacional.
“O pastel é o casamento perfeito entre a técnica oriental e o tempero brasileiro”, define o gastrólogo e pesquisador Carlos Dantas, autor do livro Sabores da Feira.
🧀 Dos recheios clássicos às invenções modernas
Com o tempo, o pastel foi deixando de ser apenas “oriental” e se tornou um símbolo de criatividade culinária brasileira.
Cada região do país criou seus sabores, misturas e até formatos próprios.
🍖 Os clássicos que nunca saem da feira
-
Carne moída: o mais tradicional, temperado com cebola, alho e azeitona.
-
Queijo: derretido e simples, com variações de mussarela, prato ou minas.
-
Palmito: suave e cremoso, favorito de quem busca algo leve.
-
Frango com catupiry: invenção brasileira que virou febre nas décadas de 1980 e 1990.
🌽 Os regionais que carregam sotaque
-
Norte e Nordeste: pastéis com camarão, vatapá e carne de sol.
-
Sul: recheios com linguiça, pinhão ou carne defumada.
-
Sudeste: doces como banana com canela ou goiabada com queijo são sucesso nas feiras paulistas e mineiras.
🍫 Os modernos e gourmets
Com o tempo, o pastel saiu das feiras e foi parar nos food trucks e festivais gastronômicos, ganhando versões criativas:
-
Pastel de costela com barbecue
-
Pastel de bacalhau com azeite português
-
E até o polêmico pastel vegano de jaca ou cogumelos.
“O pastel brasileiro virou tela de criatividade: cabe tudo, desde que seja saboroso e venha com aquela crosta dourada perfeita”, brinca a chef Luciana Higa, descendente de japoneses e dona de uma pastelaria em São Paulo.
🧂 O pastel e a feira: uma dupla inseparável
É impossível falar de pastel sem falar de feira livre.
A combinação com o caldo de cana gelado é quase uma instituição cultural. O ritual é o mesmo em qualquer cidade: escolher o recheio, esperar o chiado do óleo, ver o pastel inflar e dar a primeira mordida.
Mais do que comida, é um momento de convivência — e talvez por isso o pastel seja tão amado.
“O pastel é a comida do encontro. É simples, rápido e acolhedor”, define o sociólogo Marcos Paiva, que estuda cultura alimentar urbana.
🌎 Pastel, o símbolo da mistura brasileira
Hoje, o pastel é encontrado em praticamente todo o Brasil, com adaptações que vão do interior às grandes capitais.
Ele representa a diversidade cultural do país: nasceu com influência oriental, ganhou recheios tropicais e se tornou uma marca da identidade popular brasileira.
E, assim como o povo que o criou, o pastel continua se reinventando — sem perder o sabor da tradição.
🥢 Curiosidades saborosas
-
A média de consumo em feiras de São Paulo é de 10 milhões de pastéis por mês.
-
O pastel começou a ser vendido em feiras paulistas nos anos 1940, por imigrantes japoneses.
-
O recorde brasileiro é de um pastel com 2 metros de comprimento, feito em Londrina (PR) em 2018.
-
O Dia Nacional do Pastel é celebrado em 9 de junho.
🍽️ Conclusão
Crocante, recheado e irresistível — o pastel é uma verdadeira metáfora do Brasil: cheio de mistura, calor e criatividade.
De carne ou chocolate, de feira ou de food truck, ele segue sendo um dos maiores símbolos do nosso jeito de viver — e comer — com alegria.
🖋️ Créditos
Redação Rádio Domm – Cultura & Sabores
Texto: Brunno Lemos / Repórter
Edição: Equipe Rádio Domm
Fontes: Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Sabores da Feira – Carlos Dantas, Wyvern Food Festival, entrevistas locais.
