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Entregadores de encomendas em Swindon enfrentam longas jornadas e riscos crescentes nas ruas

Publicada em: 21/10/2025 19:17 -

Pesquisa revela pressão por produtividade, acidentes e vigilância limitada sobre condições de trabalho dos motoristas que movem o comércio digital da cidade.

 

Por Brunno Lemos | Rádio Domm - Em meio ao avanço das compras online e ao ritmo intenso de entregas, Swindon tornou-se um dos principais polos logísticos do sudoeste da Inglaterra — mas também um reflexo das tensões do setor de entregas rápidas.

Motoristas de vans que transportam encomendas para empresas como Amazon, Royal Mail, DPD e Evri (ex-Hermes) relatam jornadas exaustivas, pressão por prazos curtos e riscos constantes nas ruas e depósitos.


As principais empresas que atuam em Swindon

A cidade abriga grandes centros e bases de distribuição, incluindo:

  • Royal Mail Swindon Mail Centre, em Dorcan, e o West Swindon Delivery Office, onde centenas de motoristas realizam entregas diárias.

  • Amazon Logistics (DSN1), que utiliza frotas de motoristas independentes e parceiros locais.

  • DPD/DPD Local, com operação de última milha em Caen View, próxima à M4.

  • Evri (Hermes), com dezenas de ParcelShops e pontos de coleta na região.

  • DHL, Yodel e UPS, também com forte presença em Wiltshire e nos corredores logísticos que conectam Bristol a Reading.

Essas empresas compõem o ecossistema de entregas responsável por milhares de pacotes diários que entram e saem de Swindon — uma operação vital para o comércio eletrônico do Reino Unido.


Riscos e acidentes frequentes

A rotina de trabalho intenso vem acompanhada de riscos elevados.
Segundo dados da Health and Safety Executive (HSE), o transporte e a logística estão entre os setores com maior índice de acidentes de trabalho no país, com destaque para:

  • Furtos e ataques a motoristas — casos como o de Blunsdon High Street, onde uma entregadora foi arrastada ao tentar impedir o roubo da van, expuseram a vulnerabilidade dos trabalhadores que atuam sozinhos nas ruas.

  • Quedas, escorregões e atropelamentos durante carga e descarga em depósitos e áreas comerciais.

  • Exposição a longas jornadas e fadiga, que, segundo relatórios de segurança viária, estão ligadas a até 20% dos acidentes nas estradas britânicas.

A HSE classifica o trabalho de entregas e coletas como “uma das atividades mais perigosas do cotidiano urbano”, exigindo treinamento e planejamento rigorosos.


Jornada de trabalho e excesso de horas

A legislação britânica prevê limites claros de jornada para motoristas profissionais:

  • Até 10 horas diárias de condução e 11 horas totais de serviço (GB Domestic Rules).

  • Pausas obrigatórias após 5h30 de direção e descanso diário mínimo de 11h.

  • Obrigatoriedade de registros de horas trabalhadas (em tacógrafo ou planilha semanal).

Na prática, porém, muitos entregadores trabalham como autônomos e relatam pressão por metas que os levam a exceder esses limites para garantir pagamento integral por rota.

Entidades sindicais e grupos de defesa do trabalho afirmam que há pouca fiscalização efetiva sobre a duração das jornadas e as condições de descanso — especialmente entre motoristas contratados como prestadores de serviço.


Fiscalização e atenção do governo

O setor é monitorado por diferentes órgãos:

  • HSE (Health and Safety Executive): fiscaliza práticas seguras em carga, descarga e transporte.

  • DVSA (Driver and Vehicle Standards Agency): responsável por verificar cumprimento das regras de condução e horas de trabalho.

  • Ofcom: regula o mercado de entregas de pacotes e monitora queixas de consumidores sobre as grandes operadoras.

  • CMA (Competition and Markets Authority): acompanha possíveis abusos de mercado ou fusões que afetem concorrência e condições de trabalho.

Em 2024, a Ofcom registrou que quase 15 milhões de consumidores no Reino Unido tiveram problemas com entregas em apenas um mês, o que indica também pressão crescente sobre as empresas e motoristas.


Cansaço, metas e segurança pública

O fenômeno da “entrega expressa” traz benefícios para o consumidor, mas aumenta o ritmo das ruas. Em Swindon, motoristas relatam falta de tempo para pausas, rotas que ultrapassam 10 horas diárias e pouco apoio psicológico ou técnico.

Especialistas alertam que a fadiga é um dos principais fatores de risco no volante. O governo britânico recomenda que motoristas profissionais descansem pelo menos 45 minutos a cada 8 horas e meia de trabalho, mas essa regra raramente é seguida nas rotas independentes de couriers.

O resultado é um cenário em que entregadores, pressionados por prazos e aplicativos de produtividade, assumem riscos diários — muitas vezes sem estrutura adequada ou cobertura de seguro completa.


O que está sendo feito

Nos últimos meses, o Department for Transport (DfT) e a HSE intensificaram campanhas de prevenção de acidentes em transporte leve e entregas urbanas, com foco em:

  • Educação sobre fadiga e pausas obrigatórias;

  • Treinamento para “lone workers” (trabalhadores solitários);

  • Segurança contra furtos de veículos;

  • Auditorias sobre carga e descarga em locais urbanos.

Apesar dos esforços, sindicatos e associações de transporte consideram as ações ainda “tímidas” diante do tamanho e do ritmo do mercado de entregas.


Conclusão

Swindon espelha o dilema nacional: um setor essencial para a economia digital, mas que ainda carece de equilíbrio entre produtividade e segurança.


Com mais de uma dezena de grandes operadores disputando espaço e prazos cada vez mais curtos, os motoristas permanecem na linha de frente — exaustos, pressionados e expostos a riscos físicos e emocionais.

Enquanto o comércio eletrônico segue em expansão, especialistas cobram do governo fiscalização mais rigorosa e políticas de descanso efetivas para evitar que o progresso logístico venha às custas da saúde de quem faz as entregas acontecerem.


📍 Serviço

Setor: Entregas de encomendas (parcel delivery)
Principais empresas em Swindon: Amazon Logistics, Royal Mail, DPD, Evri, DHL, Yodel, UPS
Órgãos fiscalizadores: HSE, DVSA, Ofcom, CMA
Jornada legal: Até 10h de condução / 11h de trabalho diário (GB Domestic Rules)
Descanso mínimo: 11h diárias
Fonte: GOV.UK, HSE, Ofcom, Reuters, BBC, Swindon Advertiser (Outubro/2025)


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