Pesquisa revela pressão por produtividade, acidentes e vigilância limitada sobre condições de trabalho dos motoristas que movem o comércio digital da cidade.
Por Brunno Lemos | Rádio Domm - Em meio ao avanço das compras online e ao ritmo intenso de entregas, Swindon tornou-se um dos principais polos logísticos do sudoeste da Inglaterra — mas também um reflexo das tensões do setor de entregas rápidas.
Motoristas de vans que transportam encomendas para empresas como Amazon, Royal Mail, DPD e Evri (ex-Hermes) relatam jornadas exaustivas, pressão por prazos curtos e riscos constantes nas ruas e depósitos.
As principais empresas que atuam em Swindon
A cidade abriga grandes centros e bases de distribuição, incluindo:
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Royal Mail Swindon Mail Centre, em Dorcan, e o West Swindon Delivery Office, onde centenas de motoristas realizam entregas diárias.
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Amazon Logistics (DSN1), que utiliza frotas de motoristas independentes e parceiros locais.
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DPD/DPD Local, com operação de última milha em Caen View, próxima à M4.
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Evri (Hermes), com dezenas de ParcelShops e pontos de coleta na região.
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DHL, Yodel e UPS, também com forte presença em Wiltshire e nos corredores logísticos que conectam Bristol a Reading.
Essas empresas compõem o ecossistema de entregas responsável por milhares de pacotes diários que entram e saem de Swindon — uma operação vital para o comércio eletrônico do Reino Unido.
Riscos e acidentes frequentes
A rotina de trabalho intenso vem acompanhada de riscos elevados.
Segundo dados da Health and Safety Executive (HSE), o transporte e a logística estão entre os setores com maior índice de acidentes de trabalho no país, com destaque para:
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Furtos e ataques a motoristas — casos como o de Blunsdon High Street, onde uma entregadora foi arrastada ao tentar impedir o roubo da van, expuseram a vulnerabilidade dos trabalhadores que atuam sozinhos nas ruas.
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Quedas, escorregões e atropelamentos durante carga e descarga em depósitos e áreas comerciais.
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Exposição a longas jornadas e fadiga, que, segundo relatórios de segurança viária, estão ligadas a até 20% dos acidentes nas estradas britânicas.
A HSE classifica o trabalho de entregas e coletas como “uma das atividades mais perigosas do cotidiano urbano”, exigindo treinamento e planejamento rigorosos.
Jornada de trabalho e excesso de horas
A legislação britânica prevê limites claros de jornada para motoristas profissionais:
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Até 10 horas diárias de condução e 11 horas totais de serviço (GB Domestic Rules).
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Pausas obrigatórias após 5h30 de direção e descanso diário mínimo de 11h.
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Obrigatoriedade de registros de horas trabalhadas (em tacógrafo ou planilha semanal).
Na prática, porém, muitos entregadores trabalham como autônomos e relatam pressão por metas que os levam a exceder esses limites para garantir pagamento integral por rota.
Entidades sindicais e grupos de defesa do trabalho afirmam que há pouca fiscalização efetiva sobre a duração das jornadas e as condições de descanso — especialmente entre motoristas contratados como prestadores de serviço.
Fiscalização e atenção do governo
O setor é monitorado por diferentes órgãos:
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HSE (Health and Safety Executive): fiscaliza práticas seguras em carga, descarga e transporte.
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DVSA (Driver and Vehicle Standards Agency): responsável por verificar cumprimento das regras de condução e horas de trabalho.
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Ofcom: regula o mercado de entregas de pacotes e monitora queixas de consumidores sobre as grandes operadoras.
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CMA (Competition and Markets Authority): acompanha possíveis abusos de mercado ou fusões que afetem concorrência e condições de trabalho.
Em 2024, a Ofcom registrou que quase 15 milhões de consumidores no Reino Unido tiveram problemas com entregas em apenas um mês, o que indica também pressão crescente sobre as empresas e motoristas.
Cansaço, metas e segurança pública
O fenômeno da “entrega expressa” traz benefícios para o consumidor, mas aumenta o ritmo das ruas. Em Swindon, motoristas relatam falta de tempo para pausas, rotas que ultrapassam 10 horas diárias e pouco apoio psicológico ou técnico.
Especialistas alertam que a fadiga é um dos principais fatores de risco no volante. O governo britânico recomenda que motoristas profissionais descansem pelo menos 45 minutos a cada 8 horas e meia de trabalho, mas essa regra raramente é seguida nas rotas independentes de couriers.
O resultado é um cenário em que entregadores, pressionados por prazos e aplicativos de produtividade, assumem riscos diários — muitas vezes sem estrutura adequada ou cobertura de seguro completa.
O que está sendo feito
Nos últimos meses, o Department for Transport (DfT) e a HSE intensificaram campanhas de prevenção de acidentes em transporte leve e entregas urbanas, com foco em:
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Educação sobre fadiga e pausas obrigatórias;
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Treinamento para “lone workers” (trabalhadores solitários);
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Segurança contra furtos de veículos;
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Auditorias sobre carga e descarga em locais urbanos.
Apesar dos esforços, sindicatos e associações de transporte consideram as ações ainda “tímidas” diante do tamanho e do ritmo do mercado de entregas.
Conclusão
Swindon espelha o dilema nacional: um setor essencial para a economia digital, mas que ainda carece de equilíbrio entre produtividade e segurança.
Com mais de uma dezena de grandes operadores disputando espaço e prazos cada vez mais curtos, os motoristas permanecem na linha de frente — exaustos, pressionados e expostos a riscos físicos e emocionais.
Enquanto o comércio eletrônico segue em expansão, especialistas cobram do governo fiscalização mais rigorosa e políticas de descanso efetivas para evitar que o progresso logístico venha às custas da saúde de quem faz as entregas acontecerem.
📍 Serviço
Setor: Entregas de encomendas (parcel delivery)
Principais empresas em Swindon: Amazon Logistics, Royal Mail, DPD, Evri, DHL, Yodel, UPS
Órgãos fiscalizadores: HSE, DVSA, Ofcom, CMA
Jornada legal: Até 10h de condução / 11h de trabalho diário (GB Domestic Rules)
Descanso mínimo: 11h diárias
Fonte: GOV.UK, HSE, Ofcom, Reuters, BBC, Swindon Advertiser (Outubro/2025)
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